02/10/2015 Bebês Informáticos. O uso adequado das telas antes dos 2 anos de idade
Bebês Informáticos. O uso adequado das telas antes dos 2 anos de i
Para a Academia de ciências da França, as ferramentas digitais podem contribuir para o despertar cognitivo da criança. Mas é preciso cuidado
Por Delphine Chayet
A questão não é mais sobre o fato se é preciso proibir ou autorizar as «telas». Televisões, computadores, consoles de videogames, smartphones e tablets… Confrontadas a partir dos primeiros meses de suas vidas com estas ferramentas digitais, as crianças as adotam sem dificuldades e as utilizam extensivamente de qualquer maneira. Pragmática, a Academia de Ciências da França, em um parecer que veio a ser publicado na terça-feira, recomenda que a nova geração seja acompanhada na descoberta deste universo.
Intitulado «A criança e as telas», seu relatório foi apresentado aos Ministros da Saúde e da Educação da França. Fruto de dois anos de trabalho, ele se baseia em dados mais recentes da neurobiologia, das ciências cognitivas e da psicologia comportamental.
Enquanto conselhos conflitantes, às vezes alarmistas foram expressos sobre o assunto nos últimos anos, as conclusões do grupo de trabalho são bastante otimistas. «No geral, a revolução digital tem efeitos positivos consideráveis, resume Jean-François Bach, professor na Universidade Paris-Descartes. Ela melhora a aquisição de conhecimentos e competências, ela contribui para a formação do pensamento e da inclusão social das crianças e dos adolescentes.» No entanto, crescer em um banho de telas não é inato. Mal acompanhado, o uso das telas pode ter efeitos, por vezes graves.
A Academia relembra que os pais, os professores, os médicos e os pediatras têm um papel vital a desempenhar. De fato, eles devem ensinar as crianças a se distanciar do virtual e se autorregular. «A introdução às ferramentas digitais deve ser progressiva, tendo em conta a maturação do cérebro e as habilidades cognitivas da criança além do tipo de tela», diz Olivier Houdé, professor de psicologia na Universidade Paris-Descartes.
Nestas condições, o encontro com o mundo digital pode começar antes dos 2 anos de idade. Nesta idade, «os tablets visuais e táteis podem contribuir ao despertar cognitivo precoce do bebê», diz o relatório, especificando que este uso lúdico deve ser acompanhado pelos pais, avós ou crianças mais velhas. Do contrario, todos os estudos mostram que as telas não interativas (televisão e DVD), na frente das quais a criança é passiva, não têm nenhum efeito positivo, mas podem resultar em atrasos de linguagem e déficits de concentração. De acordo com a Academia, os computadores e consoles de jogos podem ser introduzidos a partir dos 4 anos de idade, apenas na presença de um dos pais.
Entre 6 e 12 anos de idade «o uso pedagógico das telas na escola ou em casa pode marcar um progresso educacional importante ». O software de suporte de leitura ou de cálculo pode ser muito valioso, especialmente em caso de distúrbios de aprendizagem. De acordo com Olivier Houdé, os videogames melhoram as capacidades de atenção visual e a tomada rápida de decisão, desde que não sejam muito estereotipados.
É nesta idade que é preciso começar a ensinar as crianças como o cérebro delas reage aos estímulos digitais. Uma forma de alertá-las para a importância de continuar a cultivar em paralelo, sua inteligência linear – a da leitura. «A ideia é considerar as crianças como parceiras e capacitá-las, ao invés de vê-las como seres humanos vulneráveis que precisam ser protegidos por uma proibição », diz Serge Tisseron, psiquiatra.
Em adolescentes, o uso adequado das telas pode melhorar tanto o controle cognitivo (capacidade de controlar seus pensamentos, ações, tomadas de decisões) quanto o controle de suas emoções. As ferramentas digitais oferecem uma oportunidade para «treinar melhor sua mente e sua inteligência », de acordo com a Academia, que, no entanto, adverte que o uso excessivo pode criar um pensamento «zapping», rápido e superficial que esgota a memória e pode associar ao tédio e à falta de interesse, tudo aquilo que não for digital.